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      Almanaque vem do árabe "al-manakh", que significa “o lugar onde o camelo se ajoelha ou onde se apeia do camelo ou do cavalo para conversar e trocar informações”. Esta página é um espaço para assuntos vários: comunidade,  atualidades,  resumos sobre ciências, meio ambiente, história, música, literatura,  artes plásticas e gráficas.

TRECHOS DE "NASCEU UM MENINO" de SHOLEN ASCH

UMA DAS MAIS BELAS NARRATIVAS DO NATAL JÁ ESCRITAS

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    " Miriam, da casa de Hanan, alimentava em segredo o desejo, como muitas mulheres judias, de que o Messias que estava sendo esperado fosse concebido no seu ventre (...)

    A casa do pai era na humilde cidade de Nazaré, tão infecunda da palavra de Deus como uma pedra lançada num campo de flores. Quem era ela, pois, para partilhar as provações do Messias?

    Ela era como um broto ressequido de uma velha árvore entre os cedros do Líbano. Mas o sonho que ela procurava afastar de si tornava a voltar.                    .            Um leve tremor sacudiu-lhe de repente o corpo. Alguma coisa se estava passando com ela, pois o coração começou a bater-lhe fortemente no peito. Ergueu a cabeça sem saber por que e olhou a volta de si. Parecia-lhe que havia descido um pesado silêncio sobre todas as coisas vivas. Era como se o tempo e o curso da criação se tivessem imobilizado. As folhas, flores, ramos e arbustos, as casas, as árvores,

o gado que pastava nos campos tudo se imobilizara, suas vidas suspensas num indefinível instante.

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Giovanni Baptiste Salssoferrato
1609 / 1685
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Luca Giordano  1634 / 1705

         (...) Míriam baixou a cabeça e,

abandonando o jardim, entrou na casa.(...) Somente seu coração é que continuava a pulsar fortemente ao mesmo tempo em que brilhavam na testa gotas de suor, o rosto em brasa como se estivesse com febre.  Havia certamente alguém em sua câmara. Não podia vê-lo, apenas sentia o peso e a extensão de sua presença.                    Percebeu, num instante, a sombra

silenciosa de duas grandes asas a adejar-lhe sobre a cabeça. Miriam cobriu o rosto com as mãos e caiu de joelhos.                            Nenhuma palavra saiu de seus lábios,

apenas o coração é que exprimiu sua razão. Quando ergueu novamente os olhos, viu que não estava mais sozinha. Não se surpreendeu ao deparar com um anjo ali no quarto. Poderosas asas ocultavam-lhe a grande figura. Os olhos de Miriam lutaram com os do anjo, (...) e, foi ele, o serafim, quem baixou finalmente

a cabeça sobre as asas, incapaz de sustentar o sofrimento mortal que se lia no olhar da jovem.                            .

     "A paz esteja contigo, filha de Hanan, pois o Senhor está contigo!"

    Foi somente ao ouvir o  anjo saudá-la numa voz humana que Miriam percebeu mais uma vez sua própria natureza terrena. Tornou a ser uma jovem humilde e trêmula, o coração a pulsar-lhe fortemente e a agitar-lhe no peito o xale desbotado da mãe. Madeixas de seus cabelos grudaram-se-lhe à testa e ao pescoço úmidos. Seu rosto se tornou lívido e suas mãos começaram a tremer.      .

    "Nada receies, Miriam, pois caíste na graça

de Deus. Irás conceber e dar à luz um filho, a

quem darás o nome de Yeshua. E ele será um grande homem e será chamado filho do Altíssimo. Ele reinará sobre a casa de David e o seu reino será eterno" 

   (...) Miriam permaneceu em silêncio durante algum tempo. Cerrou os olhos. As cores, porém, haviam voltado ao seu rosto dando-lhe um calor intenso e o brilho de um fogo sagrado".                          . 

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Cignani Carlo 1628 /1719
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Doménikos Theotokópoulos
El Grecco 1541 / 1614

     (...) "A própria paisagem mudou de aspecto. Uma corrente de calor varreu a atmosfera. Cada arbusto exalava um bálsamo como se fosse um perfume de botões em flor, impregnando o mundo com o cheiro das coisas novas.

     Os pastores viram de repente que o inverno se transformava em primavera. Todos os vales assumiam a cor verde das relvas novas, a neve desaparecia das colinas e os carneiros começavam a pastar nos prados, iluminados por uma luz cor de pérola.                  .

          E o silêncio pairou sobre toda a criação.

          (...) "- Dizei-me o que vistes e ouvistes

naquela noite, ordenou o rei. O mais velho dos pastores aproximou-se indeciso e começou:     “Ouvimos as estrelas cantarem como anjos e os anjos brilharem como se fossem estrelas. Eram tantos que nem podíamos contá-los, as estrelas no céu e os anjos na terra e todos cantavam numa só voz:

 

   "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade".

SHOLEN  ASCH

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     O grande escritor, romancista, jornalista, dramaturgo e ensaísta iídiche Sholem Asch nasceu em 1880, em Kutno, na Polônia, na época uma cidade sob dominação russa. Naceu em uma família judia de dez filhos, ultra-ortodoxa e recebeu uma educação tradicional e formação baseada no talmude - um dos livros básicos da religião judaica que contém a lei oral, a doutrina, a moral e as tradições dos judeus editado em aramaico, surgido da necessidade de complementar a Torá.

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       Aos 17 anos, seus pais o enviaram a Włocławek, onde foi tutorado por um escrivão público, e iniciou-se em outros idiomas e na literatura profana. Foi então à Varsóvia, o núcleo da vida literária judia na Polônia. Começou a escrever em hebraico mas, graças às influências do grande escritor I. L. Peretz, passou a escrever em iídiche, dando exclusividade a este idioma.

       Em seus primeiros anos em Varsóvia, casou-se com Mathilde, filha do escritor judeu polonês M. M. Shapiro.

      Antes da Primeira Guerra Mundial, Asch vai aos Estados Unidos onde passa a publicar no jornal iídiche Forvets, não retornando à Polônia antes do conflito se instalar na França

       Depois de 1938, retorna aos Estados Unidos onde publica a maioria de suas obras. Em  1957, resolve ir para Bat Yam, em Telavive, passar seus últimos anos de vida. A casa onde morou nessa época seria depois convertida no Museu Sholem Asch.

      Sholem Asch foi considerado o escritor mais controvertido da literatura judaica moderna, escrevendo em iídiche e hebraico. Após um êxito inicial com o romance Dos Shtetl (1904), consagrou-se com o drama Got fun Nekomeh (1907). As duas obras tratavam dos problemas vividos pelas comunidades judaicas na Europa.           Radicou-se nos Estados Unidos (1914) onde se naturalizou (1920) e escreveu  outros romances

Residiu alternadamente nos Estados Unidos, Europa e Palestina. Sempre tentou em suas obras aproximar o judaísmo e o cristianismo, mostrando as afinidades entre as duas religiões, como na trilogia baseada no Novo Testamento, Der Man fur Nazares (1939), Der Apostol (1943) e Mary (1949).          Morreu em Londres, em 1957, sepultado no Cemitério Hoop Lane, onde seu túmulo é marcado hoje por um monumento simples e baixo representando um livro aberto.

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       As obras de Sholen Asch foram traduzidas para numerosos idiomas. Elas geraram polêmica entre os ortodoxos, mas constituíram-se em um exemplo de fé na igualdade espiritual dos homens, transcendendo as diferenças religiosas.    Entre seus romances religiosos estão: O Nazareno , O Apóstolo, Maria Mãe de Deus.

     Seu último romance, escrito em 1955 intitula-se O Profeta

Fontes: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/sholem-asch.htm

https://pt.wikipedia.org/wiki/Sholem_Asch

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